Por Julia Gonzatto

Pagando bem, que mal tem?

O decreto de lei n° 9.215, de 20 de abril de 1946, considera que “a tradição moral jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e à exploração de jogos de azar”, e que por isso, “proíbe a prática ou exploração […] em todo o território nacional”.  

Porém… Depende?

Mesmo com restrições rigorosas e leis antigas que proíbem a prática de jogos de azar no território nacional, o Brasil viu um crescimento exponencial de sites e aplicativos de apostas nos últimos anos, assim como a sua divulgação, com muitas promessas de dinheiro rápido e fácil.

A facilidade de acesso à Internet, apesar de não ser considerada uma causa, é um catalisador de todo o processo de popularização. Os aplicativos e jogos de cassino virtual basicamente recriam através de uma tela a experiência que o usuário teria apostando em máquinas caça-níqueis na vida real – porém, com muito mais facilidade.

No caso do emblemático Fortune Tiger, ou como ficou conhecido aqui no Brasil, “Jogo do Tigrinho”, aqueles que conseguem fazer uma combinação de três desenhos iguais em três diferentes fileiras ficam aptos a ganhar um prêmio em dinheiro. Ou algo assim. Já que muitas vezes, mesmo que o usuário tenha sorte grande e saia como ganhador, o valor do prêmio que ele recebe não é o mesmo que foi prometido inicialmente. Algoritmos do aplicativo costumam favorecer o operador ao invés de quem está apostando, o que faz com que as vítimas normalmente percam mais dinheiro do que ganhem.

Mas afinal, o que é o Jogo do Tigrinho?

No Brasil, a popularidade do Fortune Tiger veio, principalmente, pela ação de influenciadores pagos para realizarem campanhas de divulgação do jogo, compartilhando táticas para “ganhar” o dinheiro mais fácil com seus seguidores. Aqueles que eram induzidos a baixar o aplicativo, também eram convencidos a deixar valores altos de dinheiro na plataforma.

Motivados pelas ações ilegais do aplicativo, e indo atrás da organização criminosa envolvida com esse tipo de jogo, a Polícia Civil do Pará criou a operação “Truque de Mestre” e desde o final do ano passado prendeu 8 pessoas envolvidas nos esquemas.

Alguns dos detidos tinham milhares de seguidores e ganhavam em média R$15 mil para atrair vítimas para o aplicativo. A estimativa é que a movimentação de dinheiro em 6 meses tenha chegado aos impressionantes R$ 12 milhões. A polícia ainda afirmou que cinco carros de luxo, duas motos, aparelhos eletrônicos e documentos envolvidos nas investigações também foram apreendidos.

Isso significa que todas as famosas bets também terão seus dias de atuação no Brasil contados?

Não exatamente. É importante lembrar que jogos de azar são diferentes de sites de aposta esportivos, que são legalizados desde 2018 aqui no Brasil. Apesar de ambos envolverem a sorte, a segunda categoria normalmente possui mais transparência em relação aos prêmios e dão algum grau de previsibilidade para o apostador sobre o retorno do investimento.

Então lembre-se! Quando o assunto é sorte, as chances de sair no prejuízo são quase sempre maiores que as de lucrar.